Como todo bom aprendiz de nerd o RPG de mesa faz parte, sendo assim aí está o prólogo de uma de nossas campanhas, mestrada pelo Igor e levada ao papel por mim =)
PRÓLOGO
A taverna
começava a encher enquanto o jovem bardo tocava, embora o único olhar que
recebesse fosse o da jovem que servia as fartas canecas de cerveja, franzina e
de vestes roídas, não era o tipo de olhar que Beedle desejava receber, nenhum
ouro lhe seria ofertado por ela, embora, olhando bem a moça não fosse de tudo
um desperdício.
A longa
distancia um franzino rapaz espreitava com olhar curioso o ambiente, nunca
antes havia estado numa taverna, tudo lhe parecia diferente, a música, as altas
gargalhadas, as mulheres de decotes insinuantes e profundos e o cheiro rançoso,
tudo que seus olhos fitavam avidamente contrariava seu antigo lar, ao lembrar
daquele lugar que um dia chamara de casa e que agora não passava de cinzas uma
chama brotava em seus olhos, queimando tanto quanto folhas secas, em busca de
vingança.
Vingança,
quantas pessoas não sentira vontade de se vingar, ali mesmo, no lado mais
escuro da taverna enquanto ela media a energia que os corpos exalavam também
sentia a palavra rondar sua mente, seria capaz de torturar qualquer um
sacerdote sem nenhuma expressão, ou apenas uma, um sorriso torto de satisfação.
A anã-cyborg
entrou na taverna, todos a observaram por um instante, mas logo se desviaram,
havia algo em seu olhar que não esbanjava simpatia. Mechcat por sua vez sorri
com satisfação, não precisava de tolas conversas jogadas fora, não precisava de
nenhum deles e num combate corpo-a-corpo ela venceria num piscar de olhos.
A bebedeira
e as gargalhadas só se intensificavam entre poucas discussões inflamadas, ao
mesmo tempo, o vento sul soprava tão forte que atravessava as fendas da junção
entre o teto e a parede e fazia a bandeira do reino tremer entre as pregas,
vermelho como sangue fresco os ramos cobriam o tecido como se quisessem
projetar uma tela aconchegante para abrigar a fênix de olhos em chamas, o
império que não dorme, o império que não morre.
O coração do
mercenário disparou saudoso para a bandeira, muitas vezes ela fora sua única
lembrança de casa, em dez anos estivera em mais guerras que podia contar, ele
aperta o rifle junto a seu corpo, cresceu para aquela engenhosa arma e ela para
lhe servir, e assim seria mesmo que as batalhas do império não fossem mais as
suas batalhas, enquanto tivesse um bom olho e discrição, não deixaria de viver
aventuras.
- Bruxa!
Foi o grito
que alertou a todos, mesmo os mais bêbados ergueram suas armas e saíram
velozmente pelas portas.
- Bruxa!
O chão
tremia conforme os gritos ficavam mais próximos, há muito tempo uma bruxa não
era capturada, uma raça quase extinta pelas fogueiras ignorantes dos aldeões,
outras levadas ao fogo em forma de sacrifício pelos sacerdotes, ver uma bruxa
era no mínimo excitante.
Com certa
calma a bastarda nobre caminhou entre os curiosos procurando um local com vista
privilegiada, de encontro a tal bruxa, a seu lado a cyborg mexia seus dedos de
aço, pronta para uma boa luta, o mercenário por sua vez recarregou o rifle,
atiraria no primeiro tolo que tentasse matar a jovem, afinal, raridade significava
dinheiro.
O bardo
aproveitou para aconchegar a garota das cervejas em seus braços, como se pudesse
defendê-la dos males provocados pela magia, estava a quatro passos da cyborg
que revirou os olhos enojada, por outro lado o jovem franzino já não parecia
perdido, encaixou a soqueira nos dedos, estava em alerta.
Todos
respiravam pesadamente quando viram o tecido do vestido fluir pela velocidade
que a garota empregava. Não é uma bruxa, a cyborg logo percebeu, mas não foi a
primeira a avançar, Beedle por mero reflexo desviou-se dos braços da serviçal e
amparou a alquimista.
Ali sentiu
seu corpo tremer com a brusca parada, mas logo se virou para os seus
perseguidores, estava cercada por todos os lados e um circulo começava a se
fechar a seu redor, não havia tempo para pensar, agarrou o primeiro frasco no
bolso sentindo o relevo da palavra inflamável, mas foi o segundo frasco,
levemente arredondado que ela jogou para cima do líder da caça as bruxas.
- Ah! -
Todos ouviram receosos os gritos de dor do sacerdote, que agora se contorcia no
chão. Ácido, o mercenário logo percebeu, abaixando a guarda por um segundo,
alquimista, formulou enfim em sua mente.
- Ela não é
uma bruxa! - A cyborg entoou de modo explicativo, avançando para o lado da
alquimista, todos recuaram um passo, todos exceto cinco membros do exército
imperial, prontos para o ataques colocaram suas armas em posição, a anã ouviu o
disparo, mas manteve-se imóvel, preparada para o impacto.
O sangue
vazou pelo orifício feito pelo projétil, não houve gritos nem choros o corpo
logo caiu ao chão, um tiro perfeito vindo de um rifle, vinte passos de
distancia do alvo, que já estava recarregando.
A anã sorriu
enquanto os olhos da alquimista ainda tentavam encontrar respostas, estava
iniciado o combate que Machcat tanto ansiava, bastava apenas escolher o lado.
Olhou para a alquimista e pensou avistar o homem com o rifle, três contra
cinquenta, talvez um pouco menos? Ponderou brevemente, mas logo avançou contra
os quatro soldados. Lutar contra poucos era crueldade, mas lutar contra muitos
era glorioso.
A soqueira do rapaz rasgou facilmente a pele
de um dos soldados, enquanto mais um disparo certeiro foi ouvido, agora contra
um sacerdote, o bardo bateu com seu instrumento na cabeça de outros que
avançavam em sua direção, por sua vez a bastarda empunhou o florete e partiu
para cima de quem avançava contra a alquimista.
- O que mais
você faz? - Gritou perto da garota que voltou a verificar os bolsos. Atirou
mais um vidro com ácido para cima dos inimigos. - Isso não vai nos tirar daqui
vivos.
- Se me
disser que faz fogo com um piscar de olhos, tenho liquido inflamável! -
Retrucou a alquimista irritada.
Um sorriso
apareceu no rosto da nobre, tirou a pistola do coldre e atirou acertando um
alvo inimigo, a alquimista logo entendeu.
- Recue
cyborg. - A alquimista gritou, Machcat puxou um dos soltados para si e com o
braço mecânico estraçalhou a mão do homem que tinha os dedos no gatilho, depois
afastou o rapaz da soqueira consigo, fazendo com que ambos recuassem.
A alquimista
ouviu mais um disparo a seu favor, o atirador não estava entre eles, mas devia
estar escondido do olhar de todos, são e salvo. Ela, o bardo, a cyborg, o
garoto da soqueira e por fim a nobre se aproximaram o máximo que conseguiram, a
agitação consumindo-os, embora tentassem se tranquilizar, a qualquer instante
teriam de correr sem parar por suas vidas.
A bastarda
encarou Mechcat que calculava o instante correto, dez segundos depois o aceno
veio confirmando que era agora, a alquimista lançou o frágil frasco para cima
do telhado, os cinco observaram o vidro rolar e ficar preso na calha, o gatilho
da pistola de cano simples disparou e o projetil por sua vez inflamou, a
taverna eu pouco tempo ardia em chamas.
Todos dispararam,
todos, exceto a bastarda que caminhou pelo caos rumo a um sacerdote perdido,
distante o suficiente dos outros para que alguém o salvasse. A nobreza cresceu
dentro dela quando se aproximou do homem trêmulo, mas foi seu lado mágico que a
incinerou quando sua mão tocou a pele do sacerdote.
- Ela não
era uma bruxa, era uma alquimista, os anos os tornaram mais cegos do que já
eram. – Toda a energia existente no homem foi sugada por ela, que o observava,
animadamente, desfalecer.
-Vampira. –
Ele pronunciou e ela apenas sorriu.
A vampira
saiu antes que todos voltassem à atenção para ela, juntando-se aos demais, logo
o atirador também os encontrou e os seis caminharam juntos sem perguntas ou
comentários, seis pessoas distintas se unindo, como se fosse uma ordem de um
ser superior, como um comando de um mestre.
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